Bernard Machado, Analista de Certificação

É hora de virar a chave da biodiversidade (e conectar com clima).
O setor produtivo brasileiro ocupa uma posição única no mundo: alta biodiversidade, agro robusto e base natural riquíssima. Ainda assim, estamos deixando valor na mesa ao não converter ativos ambientais em resultados econômicos. O mundo já avança com créditos de biodiversidade, títulos de natureza e blended finance, e quem estruturar cedo projetos íntegros sairá na frente.
A urgência é econômica: mais de 50% do PIB global (≈ US$ 44 trilhões) depende da natureza, e a transição “nature positive” pode gerar até US$ 10,1 tri/ano e 395 milhões de empregos até 2030, de acordo com dados do Fórum Econômico Mundial. Isso deixou de ser reputação: é competitividade, acesso a capital e resiliência de cadeias.
Mercado e regulação: natureza já é compliance
Pós-COP15 e COP16, governos fecharam rota de mobilização de US$ 200 bi/ano até 2030 (com US$ 20 bi/ano até 2025 e US$ 30 bi/ano até 2030 para países em desenvolvimento), reforçando monitoramento e reporte do GBF (Kunming-Montreal Global Biodiversity Framework). O recado é claro: a natureza entrou no núcleo de risco e conformidade.
No setor financeiro, a adoção do TNFD (Taskforce on Nature-related Financial Disclosures) ganhou tração: o Status Report 2025 aponta 620 organizações comprometidas e mais de 500 relatórios já publicados. Um efeito rede que pressiona cadeias a medir, gerir e divulgar dependências, impactos, riscos e oportunidades relacionados à natureza.
Clima + Natureza: integre o GHG Protocol à agenda “nature positive”
Descarbonização bem-feita reduz risco e barateia capital, mas só funciona quando integra clima e natureza. A base é o Inventário de Emissões de GEE nos escopos 1, 2 e 3 segundo o GHG Protocol — hoje referência de mensuração e divulgação de emissões exigida pelo ISSB/IFRS S2 (Norma S2 de Divulgações Relacionadas ao Clima, emitida pelo International Sustainability Standards Board). Ou seja: quem mede certo (GHG Protocol) está pronto para reportar e dialogar com investidores, bancos e mercados.
Por que integrar agora?
- Coerência estratégica: metas climáticas (redução de emissões) e metas de natureza (impacto líquido positivo) evitam trade-offs e maximizam benefício financeiro/regulatório.
- Acesso a capital: investidores já pedem dados de emissões (IFRS S2 + GHG Protocol) e exposição a riscos de natureza (TNFD) no mesmo pacote de transparência.
Créditos de biodiversidade: a próxima fronteira de valor
Créditos com alta integridade (resultados locais verificados, adicionalidade e benefícios a comunidades) podem monetizar a restauração e a conservação e lastrear estratégias corporativas “nature positive”. O timing é favorável: governos e mercado organizaram a rota de financiamento e o setor financeiro já adotou métricas de natureza. Quem estruturar projetos auditáveis capta recursos antes.
A meta agora é ser “nature positive” — e o Brasil pode liderar
A liderança não é mais “mitigar dano”; é deixar os ecossistemas em um estado melhor do que encontramos hoje, enquanto reduzimos emissões e ganhamos eficiência. Integrar clima (GHG Protocol/IFRS S2) e natureza (TNFD/GBF) é a licença econômica para competir dentro e fora do país.
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Como a Neocert pode apoiar:
- Certificação LIFE – Negócios & Biodiversidade: Auditoria independente que comprova avaliação de pressões, impactos, riscos, dependências e oportunidades em natureza, com alta aderência ao TNFD; habilita a alegação “nature positive” e pode fundamentar a geração de créditos de biodiversidade.
- Jornada de Descarbonização: Inventário GEE (Escopos 1, 2 e 3) conforme GHG Protocol; definição de metas, roadmap de redução e suporte ao reporte compatível com IFRS S2, integrando clima + natureza para maximizar valor e evitar trade-offs.